O caminho percorrido pelo médico até que ele possa operar com segurança na plataforma robótica é longo. Para início de conversa, ele deve ser experiente na realização de cirurgias abertas convencionais e nas laparoscópicas, uma vez que a máquina não aprimora as competências básicas de ninguém. Apenas potencializa.
A qualificação prévia também é essencial. O treinamento do cirurgião que deseja trabalhar com cirurgia robótica requer, no mínimo, 20 horas de treino em simulador (o chamado Mimic). Em seguida, vem a fase de certificação. Uma vez capacitado, o profissional deve ir a algum centro de treinamento – Estados Unidos e Colômbia são alguns dos centros – para obter um título de aptidão. Como já expliquei alguns posts por aqui, é possível fazer uma analogia com o piloto de avião: sem treinamento não dá pra tirar o brevê.
Concluídas essas etapas, o cirurgião passa a operar com a ajuda de um proctor (função que exerço em Belo Horizonte, nos hospitais Felício Rocho e Mater Dei), cujo papel é acompanhar profissionais menos experientes por, pelo menos, 20 intervenções cirúrgicas, garantindo que os procedimentos sejam feitos com a máxima segurança e eficácia.
Depois disso tudo, aí sim, finalmente podemos dizer que o médico está “craque” na realização das videocirurgias robóticas, certo? Não necessariamente.
A analogia que fiz no início deste texto do cirurgião com o piloto de avião talvez ajude a compreender por que não.
Mais do que o treinamento, são as horas de vôo acumuladas por um piloto que o aproximam cada vez mais da excelência. É durante sua prática, afinal, que ele aprende a contornar situações como turbulências, quedas iminentes, tempestades, panes na aeronave, entre outras intercorrências que costumam permear as viagens. É no céu, no comando da máquina, que ele também aprende a tomar decisões com agilidade, confiar em suas habilidades, duvidar ou apostar com segurança no clima ou em seus próprios sentidos.
O mesmo vale para o profissional que realiza cirurgias robóticas. É no cotidiano de suas operações que ele desenvolverá sua curva de aprendizado. O certificado, portanto, é, sim, muito importante. Mas o que de fato assegura a excelência é mesmo o tempo de experiência com o uso da tecnologia. É fácil entender: quanto mais fazemos, melhor fazemos.
Há quem opte pela cirurgia robótica confiando mais na máquina do que no cirurgião, quando o correto (e seguro) é fazer o contrário. Quanto mais experiente for o profissional no comando do robô, melhor a máquina entregará todos os benefícios que promete ao paciente.