De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), entre 2020 e 2022, serão identificados 10.640 novos casos de câncer de bexiga no Brasil e os estágios da doença são decisivos na escolha do melhor tratamento.
Compreender o desenvolvimento desse tipo de tumor é fundamental para que o paciente esteja muito bem informado e seguro para enfrentar o tratamento da doença.
Metade dos pacientes costuma ser diagnosticada quando o tumor está situado na camada interna do órgão, ou seja, ainda em estágios mais iniciais.
Entretanto, em cerca de 35% dos pacientes, o tumor já terá invadido camadas mais profundas, sem se espalhar para tecidos próximos ou distantes, o que ocorre mais raramente (aproximadamente 4% dos casos).
Além disso, esse tipo de neoplasia costuma acometer pessoas mais velhas, de maneira que 90% dos pacientes têm idade superior a 55 anos e, em sua maioria, são do sexo masculino.
Como é feito o estadiamento do câncer de bexiga
Depois de receber o diagnóstico, o paciente deve passar pelo processo de estadiamento, que tem como objetivo determinar se o câncer é superficial, invasivo ou metastático, além de avaliar o tamanho do tumor em si.
Para isso, utilizamos, geralmente, uma tomografia computadorizada abdominal e pélvica ou uma ressonância magnética. Esses exames possibilitam avaliar a extensão local do tumor e a pesquisa de metástases na região, mas não detectam crescimentos pequenos ou superficiais.
Estágios do câncer de bexiga e tratamentos
Os tumores da bexiga podem ser divididos entre superficiais, invasivos e metastáticos, sendo classificados de acordo com o sistema TNM, da União Internacional Contra o Câncer, que prevê mais de dez tipos de neoplasias. Para simplificar, aqui, vamos adotar estágios mais genéricos da doença:
Estágio 0
Contemplando o carcinoma papilífero não invasivo (Ta) e o carcinoma plano não invasivo (Tis), o câncer de bexiga em estágio zero está somente na camada interior do órgão, podendo ser diagnosticado, estadiado e tratado com ressecção transuretral.
Nesse procedimento, realizamos uma inspeção detalhada da uretra e de toda a bexiga, para então remover o tumor e, se possível, o tecido muscular por meio de uma raspagem. O material ressecado poderá passar por análise laboratorial e, se necessário, o procedimento poderá ser repetido depois de 3 a 6 semanas.
Os tumores papilares não invasivos podem ser de baixo ou alto grau. Quando o câncer é de baixo grau, podemos realizar quimioterapia após a ressecção transuretral com excelente prognóstico para o paciente.
Já os tumores de alto grau e tumores planos não invasivos são mais propensos a recidivar após a cirurgia, por isso pode ser indicado, também, realizar aplicação de BCG intravesical.
Casos mais raros, como quando o paciente apresenta muitos tumores superficiais, podem necessitar da remoção parcial ou completa da bexiga.
Estágio I
Caracterizados pelo crescimento na camada do tecido conjuntivo da bexiga, sem atingir o músculo, esse tipo de tumor pode ser estadiado pela ressecção transuretral, mas, na maioria dos casos, é necessário realizar uma cistectomia parcial ou total.
A decisão entre a remoção completa da bexiga vai depender do grau e tamanho do tumor. Se mais de um crescimento for identificado, a recomendação também será de uma cistectomia total.
Estágio II
Os tumores em estágio dois invadiram a camada muscular da bexiga, podendo ser superficiais ou profundos. Nesses casos, costuma ser necessário remover a bexiga por completo, bem como os linfonodos próximos do órgão.
Alguns médicos preferem administrar a quimioterapia antes da cirurgia, para tentar diminuir o tamanho do tumor, mas essa medida pode adiar a remoção da bexiga, devido ao caráter fragilizante do tratamento.
Estágio III
No estágio três, o tumor atingiu a parte externa da bexiga, e pode ter invadido tecidos adjacentes e linfonodos, de maneira que a cistectomia radical com remoção dessas estruturas é a melhor forma de tratamento, associada à quimioterapia.
Nesses casos, a quimioterapia pode ser utilizada antes ou depois da cirurgia. Se realizada antes, o objetivo é diminuir o tamanho do tumor; depois, a quimioterapia é utilizada para destruir as células cancerígenas remanescentes.
Estágio IV
Os tumores no estágio quatro invadiram outros órgãos, como próstata, útero, vagina ou a parede abdominal, além dos linfonodos próximos. O tumor também pode entrar em metástase à distância, ou seja, o câncer de bexiga passa a se desenvolver, também, em tecidos distantes do órgão primariamente afetado.
Na maioria dos casos, a cistectomia radical não é suficiente para remover toda a doença, uma vez que as células cancerígenas já se espalharam por outras estruturas. Por isso, pode ser necessário remover, também, os outros órgãos afetados e realizar quimio ou radioterapia, que podem também ser associadas.
A cura nem sempre é possível, por isso muitas vezes o tratamento tem como objetivo desacelerar o crescimento do tumor e a disseminação da doença para aumentar a sobrevida do paciente, o que chamamos de cuidados paliativos.
A cistectomia é um procedimento delicado, mas a tecnologia melhora o prognóstico
A remoção total ou parcial da bexiga é uma cirurgia de grande porte, que envolve estruturas delicadas numa região de difícil acesso. Muitos anos atrás, esse tipo de procedimento estava associado à alta mortalidade.
Entretanto, a videolaparoscopia e, mais posteriormente, por via robótica, possibilitaram que a cistectomia parcial ou total, bem como a linfadenectomia pélvica pudessem ser realizadas com segurança na grande maioria dos pacientes.
Se você quer saber como a bexiga é removida na cirurgia robótica, confira esse outro post em que explico tudo sobre o procedimento.