Biologia molecular e inteligência artificial estão sendo utilizadas em conjunto no projeto do desenvolvimento de um exame que melhora o diagnóstico e o tratamento do câncer de próstata. Prever com exatidão o comportamento biológico de células cancerígenas é um grande desafio para a oncologia. E a nova técnica tem demonstrado alta capacidade na identificação do nível da agressividade desses tumores.
A pesquisa é conduzida pela startup Onkos Diagnósticos Moleculares, do Supera Parque de Inovação e Tecnologia de Ribeirão Preto, instalado no campus da Universidade de São Paulo (USP). Em entrevista o Jornal da USP, o biólogo molecular Marcos Santos, CEO da startup Onkos, destacou que os parâmetros utilizados hoje no Brasil para definir o grau de agressividade de um tumor são subjetivos e falhos. “Quase 60% dos pacientes classificados atualmente como de alto risco jamais desenvolvem metástases e passam por tratamentos intensos desnecessariamente”, observou.
Fazer uma classificação exata em relação ao risco de recidiva ou metástase pode definir o melhor tratamento para cada caso e consequente favorecimento do prognóstico do paciente. Isso auxilia ainda na decisão da real necessidade do procedimento cirúrgico.
COMO FUNCIONA A PESQUISA
Amostras de pacientes em tratamento no Hospital de Câncer de Barretos estão sendo analisadas pelos pesquisadores da iniciativa. Os dados são divididos em 3 grupos:
1- Saudáveis – não apresentaram recidiva ou metástase em 6 anos;
2- Recidivados – recidiva em 5 anos;
3- Metastáticos – desenvolveram metástase em até 5 anos.
Depois de separadas, os pesquisadores investigam a atividade das moléculas microRNAs, pequenos RNAs (ácido ribonucleico, responsável pela síntese de proteínas da célula) que tem capacidade de controlar a atividade do próprio RNA. Em algumas doenças, como o câncer, essas microRNAs reprimem ou desregulam uma expressão genética para liberar uma mutação cancerígena ou suprimi-la. Os pesquisadores buscam, assim, informações personalizadas de como o tumor se desenvolve.
A “dobradinha” entre biologia molecular e inteligência artificial permitirá a descoberta de um grupo de microRNAs que crie espécies de “impressões digitais” para cada um dos três grupos de pacientes. Depois, será preciso desenvolver um algoritmo que saiba identificar esses perfis.
A novidade tecnológica analisará uma amostra de câncer de próstata de um paciente para identificar o seu perfil biológico. Logo, ele estabelece com qual dos grupos ele tem maior similaridade. Desta forma, cria-se um espécie de escore de risco:
Baixo risco: grupo saudável
Alto risco: grupo com metástase
RESULTADOS
Grande parte dos pacientes classificados como de alto risco, está sendo reclassificada como baixo risco de acordo com este novo exame. O método tem se mostrado mais preciso, beneficiando o paciente e tornando mais eficaz o tratamento oferecido pelo sistema de saúde; o que garante economia de recursos.
Exames como este só são oferecidos nos Estados Unidos e saem pelo custo de R$ 12 a R$ 15 mil, já que é preciso enviar a amostra para o país norte-americano. A tecnologia brasileira reduzirá esse custo em até 80%. Oncologistas ganharão um apoio importante para a tomada de decisões clínicas.
Até o final de 2018, esse novo exame estará disponível no mercado.
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