Homens da raça negra estão 10% mais propensos a desenvolver câncer de próstata. Estudos também demonstram que a doença pode ser mais agressiva entre eles: negros têm 2,4 vezes mais chances de morrer devido à neoplasia de prostata maligna. Até hoje, nenhuma pesquisa conseguiu explicar cientificamente o motivo dessa tendência. Mas pesquisadores dos Estados Unidos (EUA) sugeriram recentemente em um artigo que os negros com câncer de próstata estão menos propensos a obter tratamento ideal. O estudo foi divulgado em agosto na revista científica European Urology.
Segundo a pesquisa, homens negros com câncer de próstata de risco elevado têm menor probabilidade dos que os homólogos brancos de obter um tratamento agressivo, que pode oferecer mais chances de sobrevivência. Os pesquisadores observaram que esses pacientes, provavelmente, se beneficiariam mais de cirurgias ou sessões de radioterapia em vez de abordagens conservadoras de espera ou terapia hormonal; frequentemente utilizadas em casos de tumores de baixo risco.
Tratamento agressivo recebido:
83% dos homens brancos
74% dos homens negros
“Dada a evidência que sugere um benefício para o tratamento em homens diagnosticados com câncer de próstata intermediário e de alto risco, nossos achados podem explicar, até certo ponto, as diferenças nas chances de sobrevivência entre homens negros e brancos diagnosticados com câncer de próstata”, disse o pesquisador principal Dr. Quoc-Dien Trinh, co-diretor do Dana-Farber/ Brigham e Women’s Prostate Cancer Center em Boston.
O estudo é limitado pela natureza retrospectiva do grupo de análise. A pesquisa utilizou informações da base nacional de dados sobre câncer do EUA. Foram identificados 223.873 brancos e 59.262 homens negros, com 40 anos ou mais, recebendo cuidados para a doença. Todos já com câncer intermediário/alto risco apontado por resultado de biópsia. Os tumores dos homens do grupo de pesquisa foram diagnosticados entre janeiro de 2004 e dezembro de 2013.
Após o ajuste de fatores sociodemográficos e clínicos, os pesquisadores descobriram que a maioria das instituições médicas favoreceu a terapia definitiva em brancos. As taxas globais de terapia definitiva durante esse período aumentaram tanto para brancos (81% x 83%) quanto para homens negros (73% x 75%). No entanto, 39% das instalações de tratamento demonstraram taxas significativamente mais altas de terapia definitiva em homens brancos, em comparação com apenas 1% favorecendo homens negros. Os pesquisadores observam que o estudo é limitado por possíveis sugestões de seleção e modificação de efeito.
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Em entrevista à Reuters, o Dr. Quoc-Dien Trinh disse que é preciso fazer um trabalho melhor para (padronizar) o aconselhamento e as recomendações de câncer de próstata. “Não há nenhuma razão pela qual haveria uma tal variação em como os homens negros são tratados de uma instituição para outra”, disse.
Ainda no artigo, a Dra. Simpa Salami, urologista da Universidade de Michigan, fez algumas considerações sobre as limitações da pesquisa:
- Faltam dados sobre as preferências dos pacientes que podem ter conduzido decisões de tratamento;
- Ausência de informações sobre pacientes tratados em clínicas menores e locais, que atendiam menos de 50 homens por ano com câncer de próstata;
- Não é possível afirmar quantos pacientes podem ter optados contra o tratamento agressivo porque não confiaram em seu médico ou ficaram preocupados com consequências pós-cirúrgicas como incontinência urinária e disfunção erétil.
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Já o Dr. Brian Chapin, do Centro de Câncer MD Anderson, da Universidade do Texas (Houston), disse que as diferenças de renda e seguro também podem ajudar a explicar as disparidades em como os homens foram tratados. “Uma comparação entre brancos e negros dentro da mesma faixa de renda e seguro equivalentes pode não ser tão significativamente diferente”. Ele destaca a importância de uma segunda opinião médica antes de prosseguir com um tratamento contra o câncer.
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Os pesquisadores norte-americanos observam que prestadores de cuidados de saúde devem estar cientes desses vieses hereditários ao aconselhar pacientes em opções de tratamento para câncer de próstata.
O histórico familiar também tem papel importante nas chances de um homem ter câncer de próstata. O risco é grande se o seu pai, tio ou irmão tiveram a doença. Por isso, assim como os negros, homens nessa condição devem consultar um urologista antes, aos 45 anos. Todos os outros, a partir dos 50 anos, devem fazer o exame preventivo de toque retal. Quanto antes a doença for descoberta, melhor o prognóstico do paciente.
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